Resenha: Réquiem - Lauren Oliver

Título: Réquiem
Autor(a): Lauren Oliver
Editora: Intrínseca
Páginas: 304
No desfecho da trilogia em que o amor é considerado uma doença, Lena é um importante membro da resistência contra o governo. Transformada pelas experiências que viveu, está no centro da guerra que logo eclodirá. Depois de resgatar Julian de sua sentença de morte, Lena e seus amigos voltam para a Selva, cada vez mais perigosa. Enquanto isso, Hana, sua melhor amiga de infância, foi curada. Ela leva uma vida segura e sem amor junto ao noivo, o futuro prefeito. Às vésperas do casamento e da eleição - cujo resultado pode dificultar ainda mais a vida dos Inválidos -, Hana se questiona se a intervenção realmente tem efeito. Vivendo em um mundo dividido, Lena e Hana narram suas histórias em capítulos alternados. O que elas não sabem é que, em lados opostos da guerra, suas jornadas estão prestes a se reencontrar

Réquiem é o terceiro e último livro da série Delírio. Nesse ponto da história Lena descobre que Alex, seu antigo amor, está vivo, porém ele não é mais o mesmo depois de ter ficado preso nas Criptas. E Lena está com Julian, ela o arrastou para o seu mundo, não pode abandoná-lo agora. Mas o mundo (e a história) vai muito além da vida amorosa de Lena. O impasse em que vive a sociedade criada por Lauren Oliver atinge o seu ápice, as rachaduras que vimos surgir na aparente perfeição do sistema nos livros anteriores se transformam em fendas e em algum momento irão ruir. 

Enquanto vemos Lena e a Resistência lutando pela liberdade e naquilo que acreditam, também temos o ponto de vista de Hana na história. Ela está finalmente curada, ou seja, segura e vai se casar em algumas semanas com o futuro prefeito de Portland. Tudo está, aparentemente, perfeito, mas Hana tem sonhos (ela não deveria ter sonhos!!!!) e ela ainda sente algumas coisas; culpa, principalmente. Será que algo na cura pode ter dado errado? 

Gostaria de dizer que adiei a leitura de Réquiem o quanto pude, não tenho um histórico muito bom com últimos livros, parece que o autor faz um esforço extra para arruinar a história. Por isso, tenho uma relação dual com esse livro. Eu o amo e o odeio ao mesmo tempo. Nunca sei o que esperar do fechamento de uma história, mas Réquiem me surpreendeu em alguns momentos, me fez feliz em outros, me aborreceu, me fez querer jogá-lo na parede, mas o sentimento que resta é que posso indicar essa série para meus amigos sem receios. 
"Quero sangrar todos os sentimentos para fora do corpo. Por um segundo penso em como seria fácil passar de volta para o outro lado, ir até os laboratórios e me oferecer para os cirurgiões. Vocês estavam certos; eu estava errada. Tirem isso de mim." pág. 30-31
Lena definitivamente é uma das minhas personagens favoritas, já falei nas duas resenhas anteriores o quanto ela é corajosa, incrível, forte. Mas o que mais admiro nela é o modo como ela se supera, como nunca desiste, não importa o quão ruim as coisas estejam ou os obstáculos que lhe são impostos. Ela pode fraquejar, pode duvidar de si mesma tanto sobre o amor quanto em seus ideais de liberdade, mas ela nunca vai parar de seguir em frente. Ela cresceu tanto desde Delírio, mal consigo me lembrar daquela garotinha frágil e assustada do começo, agora ela é tão destemida e dura, tão dona de si. PORÉM, não acredito que a Lauren contradisse a sagacidade da personagem fazendo-a cair no papinho de "eu nunca amei você, foi tudo mentira". Fala sério! Só vou relevar porque temos uma trama onde o amor é uma doença e tudo que diga respeito a ele é mais confuso e desconhecido que normalmente. 

Demorei um pouco para me acostumar com a dinâmica de um capítulo narrado por Lena e outro pela Hana. Nunca fui muito com a cara dela, mas ela cresce muito dentro da história, podemos entendê-la melhor e também acompanhar o que está acontecendo do lado daqueles que governam e tomam as decisões. Outra coisa interessante e que me mordia de curiosidade de saber é como os curados pensam, como é toda essa coisa do “não sentir”. Creio que toda minha curiosidade não foi saciada, mas temos um belo vislumbre de como é o mundo após se passar pelo procedimento.
"Mas o que vai acontecer quando começar a esfriar? - insisto. (...) - O que as pessoas vão fazer? - Acho que vão descobrir que a liberdade não aquece - diz ele, e posso ouvir o sorriso em sua voz" pág. 95
Nesse último volume senti uma mudança na escrita da Lauren Oliver, talvez pelo livro ser composto de mais diálogos e menos momentos introspectivos, porém as reflexões e descrições metafóricas que tanto amo ainda estão lá. A leitura fluía rapidamente e, apesar, de alguns momentos (principalmente nos momentos finais) a história se arrastar o ritmo é ótimo, sempre uma bomba explodindo, um regulador espreitando, sempre a Selva mostrando o quanto cheia de surpresas é. 

Mas chega de falar o quanto a Resistência está organizada, o quanto eles estão perto de conseguir que a Zumbilândia veja que o amor não é uma doença e ser livre pode ser a melhor escolha, mas ainda é a melhor possível. Vamos falar de Alex e Julian. Gosto muito do Julian. Mesmo. Mas meu coração bate mais forte por Alex e cada olhar da Lena que ele ignorava, cada palavra não dita doía mais que um tiro em mim. No entanto, achei que a autora vacilou, ambos ficaram apagados e a história do Alex poderia ter sido bem melhor desenvolvida. 
"(...) nunca escolhemos, não completamente. Estamos sempre sendo empurrados e espremidos de um caminho para o outro. Não temos escolha além de seguir em frente, e seguir em frente de novo, e depois seguir em frente de novo; de repente, nos vemos em uma estrada que não escolhemos.
Mas talvez a felicidade não esteja em escolher. Talvez esteja na ficção, em fingir que, onde quer que formos parar, era o lugar onde pretendíamos chegar o tempo todo." pág. 143
Só ouvi praticamente críticas ruins sobre o final que a Lauren escolheu para Réquiem, não discordo que poderia ser melhor fechado, que o encerramento poderia ter sido mais trabalhado, mas acho que a intenção era exatamente essa: a imprecisão do futuro, do que pode acontecer na próxima página e que nós vamos ter que supor. Afinal, estamos falando de uma distopia, de uma revolução que está engatinhando e que tem nesse livro o seu primeiro grande e possível sedimentador passo, então é compreensível que nem tudo seja certeza no final. E quero deixar registrado que estou muito magoada pela autora ter entrado na onda do “preciso matar um personagem meio importante pra provar que minha história é feita de sacrifícios” e decidir (CLARO) matar uma das MINHAS personagens FAVORITAS. 

Mas, em resumo, a trilogia Delírio vale muito a pena a leitura. Cresci e descobri coisas juntos com esses personagens sobre sacrifício, liberdade, livre arbítrio e, sobretudo sobre o amor, o quanto ele pode destruir, mas também o quanto é curador e sublime. 

P.S: Quero casar com essa capa. Que azul brilhoso a-r-r-a-s-a-d-o-r


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