Resenha: Dercy de Cabo a Rabo - Maria Adelaide Amaral

Título: Dercy de Cabo a Rabo
Autor (a): Maria Adelaide Amaral
Editora: Globo
Páginas: 320
SKOOB
Autobiografia da irreverente atriz ditada à escritora Maria Adelaide Amaral. Dos palcos do teatro mambembe às telas de televisão. Contém caderno de imagens. 


Vou dizer a vocês, esta foi uma das resenhas mais difíceis que já escrevi. Tanto que só consegui conclui-la meses após ter lido o livro. Isto por ter sido uma leitura ruim? Jamais e muito pelo contrário. Esta foi (algo que não acontecia há algum tempo) um leitura que me envolveu, me despertou para várias reflexões, belas emoções, me fez dar boas gargalhadas e tornou ainda maior a admiração e carinho que já tinha à Dercy. A cada página pude explorar ainda mais meu vínculo com esta irreverente protagonista de uma vida incrivelmente batalhada.

Quem foi Dercy? Talentosa, verdadeira, extrovertida de uma maneira única e, acima de tudo, uma mulher admiravelmente forte. 
Amante de biografias que sou esta, em especial, foi uma experiência única. Me permitiu ver de verdade quem foi a menina Dolores e a mulher Dercy Gonçalves, pude vê-la como um livro aberto: com todos os seus medos e inseguranças, mas, independente de qualquer coisa, como a mulher forte e autêntica que sempre foi.
"Eu me acho linda da cabeça aos pés, e quem não achar que se dane. Eu me acho linda porque faço tudo para ser bela. Sou vaidosa, a vida toda fui uma mulher vaidosa. [...] Continuo gostando muito de me olhar, continuo gostando de mim." Pg.12
Quando se diz por aí que Dercy foi uma pessoa única, entenda, não há blefe. Ou então, me digam vocês, quantas pessoas conhecem que vivem a vida do jeito que querem, do jeito que julgam ser o certo para sua alma naquele momento, e que se jogam nesta aventura de viver sem nenhum medo de julgamentos, sabendo que as consequências estão aí para serem enfrentadas e não evitadas.
Este mar de coragem, foi Dercy.







"Eu sou o que sou e vou morrer assim. E o que para os outros é palavrão pra mim nunca foi. É pontuação. Palavrão não é o que você diz, é o que você faz: se você rouba, é ladrão; se você mata, é assassino; se você trai, é um sacana; se você é eleito pelo povo e só defende os seus interesses, é um filho da puta." Pg. 11







Ter uma biografia publicada era um desejo de Dercy. Apresentada à Maria Adelaide Amaral, a simpatia entre ambas foi imediata e a autora resolveu embarcar em uma das melhores experiências da sua vida, narrada e gravada em trinta horas de fitas com os relatos da própria Dercy.
Este é um livro de memórias. Nele estão narradas, em primeira pessoa, as histórias mais loucas da vida da maior humorista do teatro e televisão brasileiros. Desde criança em Madalena (RJ) com as inúmeras dificuldades inerentes à vida de uma criança pobre e sonhadora, criada pelo pai. Em relação ao pai, os enfrentamentos eram constantes, nos quais sempre havia violência verbal ou física. Na rua, a menina Dolores era alvo de boatos, julgamentos e críticas ácidas... O que nunca, jamais, abalou a autoestima e o amor próprio desta mulher e, a cada dia, só fez aumentar sua vontade de sair de Madalena e conhecer o mundo, cantando e atuando como sempre sonhou.
"Podem me acusar de ser excessiva, exagerada, mas não acho que seja defeito, é só uma questão de estilo e vitalidade." Pg. 129
Após finalmente sair de Madalena, Dercy viveu por décadas a vida de uma artista mambembe, conheceu o Brasil e o mundo, esteve no topo do sucesso, chegou a passar necessidades básicas, adoeceu, teve uma filha (à qual zelou e amou mais do que qualquer outra coisa em sua vida), viveu muitos casos mas o amor encontrou somente em sua arte e profissão e em sua família, ela ajudou a fazer o teatro de revista brasileiro, participou da fundação de canais de tv, em especial a Rede Globo, viveu a ditadura, ou melhor, enfrentou, foi censurada e isso não a calou. Foi amada, odiada, julgada, defendida, posta na rua e ouviu implorarem por seu trabalho.
Foi uma das, e se não a maior cantora, atriz e humorista que o Brasil já teve.
"Outro dia o Boni estava falando que nós dois pertencemos à fase heroica da Globo, e acho que ele tem razão, porque a garra, a vontade de trabalhar que a gente tinha, às vezes nas condições mais fodidas, não era normal. Em 1968, quando pegou fogo na Tv Globo de São Paulo, fiz o meu programa num caminhão. Trabalhei na rua, e nos escombros do auditório que tinha pegado fogo entrevistei o Silvio Santos, que naquela época fazia seu programa na emissora."  Pg. 183
Eu transcreveria praticamento o livro todo aqui, pois é quase impossível escolher apenas alguns quotes rsrs. Mas me contive, e acabei pondo apenas os meus preferidos e que julgo necessários para que vocês fiquem curiosos para ler! 

Enfim, é aos suspiros que falo e escrevo sobre esta biografia, pois Dercy Gonçalves é uma inspiração sem igual para mim. Espero que tenham se interessado e leiam, talvez nós um dia aprendamos a não seguir um roteiro dentro ou fora do palco, a viver cada segundo como Dercy viveu...






Um comentário:

  1. Oi Julia, tudo bem ???
    Sabe, quando eu era bem pequena, e morava em Florianópolis (naquela época eu ainda era filha única), meus pais me levaram no shopping para passear e a Dercy estava passando por lá, na verdade eu acho que ela estava saindo ... Não me lembro muito bem, mas eu me lembro que fiquei encarando aquela mulher até que ela saísse do meu campo de visão. Na época eu era muito pequena para saber quem era a Dercy, mas meus pais comentaram que era ela e ficou por isso ... Mas eu lembro muito bem de como ela parecia segura de si mesma, certa, confortável com o que ela era !!!
    Aquilo me admirou muito e ficou comigo até hoje. Eu posso não ser uma grande fã, e nem conhecer bem a carreira dela, mas eu sempre a admirei, e lendo sua resenha percebi o quanto ela era especial !!!
    Agora estou morrendo de vontade de ler esse livro e conhecer mais sobre essa mulher que se destacou tanto mas que sempre foi fiel a si mesma !!!

    Beijinhos
    Hear the Bells

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